Muitas colaborações musicais que se tornaram clássicas quase não aconteceram devido a egos fortes, agendas conflitantes ou diferenças criativas entre os artistas.

Apesar das tensões e desafios nos bastidores, essas parcerias muitas vezes resultam em músicas icônicas, mostrando que o sucesso raramente surge sem esforço, negociação e adaptação.

Confira cinco exemplos abaixo de parcerias que enfrentaram desafios nos bastidores:

Under Pressure” (1981) - Queen & David Bowie



Essa colaboração é um dos encontros mais lendários da história da música. A faixa nasceu quase por acaso, em uma sessão de estúdio em Montreux, na Suíça. O Queen trabalhava em novas canções quando David Bowie apareceu para visitar. Entre improvisos, linhas de baixo e vocais trocados, surgiu a base do que se tornaria “Under Pressure”.

O famoso riff de baixo de John Deacon é um dos mais reconhecíveis de todos os tempos, e a mistura da potência vocal de Freddie Mercury com a interpretação dramática de Bowie resultou em uma canção única.

Apesar disso, o clima no estúdio não foi fácil: os egos fortes se chocaram, houve discussões criativas intensas e cada um queria imprimir sua marca.

Bowie tinha um jeito muito controlador, insistindo em mudanças e ajustes nos arranjos, enquanto Mercury também era conhecido por querer comandar as direções musicais.

Freddie e Bowie não gravaram juntos, frente a frente, como muita gente imagina. Eles fizeram as vozes separadas, cada um improvisando linhas diferentes, sem ouvir exatamente o que o outro tinha gravado. Depois, o produtor e a banda escolheram e encaixaram as melhores partes. Isso ajudou a evitar confrontos diretos, mas também refletiu a dificuldade em conciliar dois artistas tão dominantes.

Relembrando o momento anos depois, o icônico guitarrista Brian May contou ao Ultimate Classic Rock: “Lembro do David Bowie se inclinando para o John e dizendo: ‘Não, não faça assim', e o John respondendo: ‘Com licença? Eu sou o baixista, certo? É assim que eu faço!'”

No fim, a tensão se transformou em energia musical. Lançada como single em outubro de 1981, a música chegou ao topo das paradas no Reino Unido e se tornou um clássico absoluto do rock. Décadas depois, ainda é lembrada tanto pelo impacto sonoro quanto pela rara união de duas forças criativas tão icônicas.

Empire State of Mind” (2009) - Jay-Z Feat. Alicia Keys



A base instrumental e o refrão já existiam antes de Jay-Z pensar nela. O produtor Al Shux criou a melodia inspirado em “Love on a Two-Way Street”, clássico do The Moments. A composição ficou por conta de Angela Hunte e Janet Sewell-Ulepic.

A colaboração com Alicia Keys, no entanto, quase não aconteceu, porque Jay-Z não conseguia falar com ela. "Aparentemente, Jay estava tentando entrar em contato comigo. (...) Ele estava tentando me encontrar, fez tudo da ‘maneira certa' — checou com agentes, gerentes, e não conseguiu me localizar… até que finalmente me ligou diretamente", contou Keys durante uma entrevista no programa Elvis Duran and the Morning Show .

Além disso, a artista revelou que não estava se sentindo bem quando gravou sua parte da música em Los Angeles e que o local não parecia certo para o tema, que é uma exaltação a Nova York.

Ela regravou seus vocais em Nova York depois que Jay-Z pediu para ela cantar novamente, garantindo que a música fosse finalizada com a vibração correta.

A canção se tornou um dos maiores hinos em homenagem à Nova York, venceu o Grammy e alcançou o topo da Billboard Hot 100.

Walk This Way” (1986) - Aerosmith & Run-D.M.C.



A parceria entre o Aerosmith e o Run D.M.C. quase não aconteceu devido a uma série de hesitações iniciais de ambas as partes.

Quando o produtor Rick Rubin sugeriu a ideia de regravar a música que já era do Aerosmith, os membros do Run-D.M.C. que bem conheciam a banda na época, estavam em um momento de afirmação no hip-hop e temiam que a colaboração pudesse prejudicar sua imagem.

Em uma entrevista, Darryl “DMC” McDaniels lembrou de ter pensando: "Todas as pessoas qur gostam de hip-hop vão ficar bravas com a gente".

O mesmo receio pairava entre os integrantes do Aerosmith sobre unir o rock ao hip-hop. Na ocasião, a banda estava em baixa após o álbum anterior não ter alcançado o sucesso esperado, o que fez com que Rick Rubin insistisse na colaboração.

Apesar das hesitações iniciais, a colaboração foi realizada em uma única sessão de gravação em 1986. O resultado foi um sucesso estrondoso, alcançando o 4º lugar na Billboard Hot 100 e revitalizando as carreiras de ambos os grupos

"Bring Me To Life" (2003) - Evanescence Feat. Paul McVoy (12 Stones)



A música é o single de estreia do primeiro álbum do Evanescence, "Fallen", mas não saiu exatamente como a vocalista Amy Lee gostaria.

A parceria de rap, cantada por Paul McVoy, foi inserida na faixa por decisão da gravadora Wind-Up Records, visando atrair o público do nu metal em ascensão nos anos 2000.

“(...) essa parte, esse som, não é meu estilo. Por isso foi uma pílula tão difícil de engolir, mesmo que em apenas uma música. Mas vencemos porque não tivemos que mudar todo o nosso som", disse Amy Lee, em uma entrevista para a Metal Hammer.

Apesar das tensões sobre o rap e a intervenção da gravadora, a música se consolidou como um marco do Evanescence e do rock alternativo da época, alcançando o top 10 da Billboard Hot 100 nos Estados Unidos e chegando ao top 5 em vários outros países, incluindo Reino Unido, Austrália e Canadá.

Além disso, o Evanescence também conquistou o Grammy de "Melhor Performance de Hard Rock" em 2004 pela música.

"Titanium" (2011) - Sia & David Guetta


Sia inicialmente hesitou em gravar “Titanium” com David Guetta, pois estava focada em sua carreira como compositora e não desejava retomar a posição de artista principal.

Ela havia escrito a música com a intenção de oferecê-la a Alicia Keys, mas Guetta a convenceu a gravar a demo, que acabou sendo lançada sem seu consentimento. Katy Perry também chegou a ser cogitada para a canção.

Após o sucesso da música, Sia expressou frustração por não ter sido consultada antes do lançamento.

Ela revelou que, na época, estava tentando se afastar da vida pública e focar na composição para outros artistas. No entanto, com o tempo, ela passou a aceitar a situação e reconheceu o impacto positivo que a música teve em sua carreira.

Em uma entrevista, David Guetta contou como conversou com Sia: "[Na época] Eu pensei, 'Essa música é tão boa que eu não vou entregá-la para alguém de jeito nenhum. Quero ficar com ela para mim e também preciso que você esteja nela, porque ninguém vai cantar isso como você. Ela disse, 'Não, eu não quero mais ser artista, eu não quero viver essa vida, quero ficar em casa, com os meus cachorros e escrever canções pata outras pessoas'. E eu tive que implorar para ela e ela acabou aceitando com a condição de que não faria nenhuma promoção, nenhuma entrevista e nenhuma live".