Negras nuvens Mordes meu ombro em plena turbulência Aeromoça nervosa pede calma Aliso teus seios e toco Exaltado coração Então despes a luva para eu ler-te a mão E não tem linhas tua palma
Sei que é sonho Incomodado estou, num corpo estranho Com governantes da América Latina Notando meu olhar ardente Em longínqua direção Julgam todos que avisto alguma salvação Mas não, é a ti que vejo na colina
Qual esquina dobrei às cegas E caí no Cairo, ou Lima, ou Calcutá Que língua é essa em que despejo pragas E a muralha ecoa
Em Lisboa Faz algazarra a malta em meu castelo Pálidos economistas pedem calma Conduzo tua lisa mão Por uma escada espiral E no alto da torre exibo-te o varal Onde balança ao léu minh’alma
Em Macau, Maputo, Meca, Bogotá Que sonho é esse de que não se sai E em que se vai trocando as pernas E se cai e se levanta noutro sonho
Sei que é sonho Não porque da varanda atiro pérolas E a legião de famintos se engalfinha Não porque voa nosso jato Roçando catedrais Mas porque na verdade não me queres mais Aliás, nunca na vida foste minha
Compositor: Francisco Buarque de Hollanda (Chico Buarque) (UBC)Editor: Marola Edicoes (UBC)Publicado em 1999 (03/Set)ECAD verificado obra #99929 e fonograma #43195 em 13/Abr/2024 com dados da UBEM